A Tribuna - 25/nov/2012
Além do caráter solidário, o ato de doar sangue requer muita responsabilidade. A
veracidade das informações passadas na triagem feita antes da coleta é decisiva
para que vidas sejam de fato salvas nos leitos hospitalares.
Isto porque não existe transfusão de sangue 100% segura.
O que há de mais avançado para aferir a sorologia – ou seja, o nível de infecção
– do sangue colhido nos hemonúcleos de qualquer parte do mundo é o teste de
ácido nucléico NAT.
Com esse exame, a janela imunológica (tempo em que o
vírus permanece indetectável por teste) cai de 22 para dez dias, no caso do
vírus transmissor da Aids (HIV); e de 35 para 12 dias para a hepatite
C.
Apesar de não ser obrigatório no país, o teste NAT é
realizado em amostras do material colhido em alguns bancos de sangue
brasileiros. Integram esse seleto grupo todos os hemonúcleos de
hospitais públicos e filantrópicos da Baixada
Santista. Em Santos, instituições particulares também adotam esse
procedimento.
Devido a impossibilidade de garantir a segurança em 100%
do sangue para transfusão, os doadores passam por um rígido processo de triagem.
Após preencher um cadastro, o candidato a doador é entrevistado por biomédicos,
para identificar comportamentos que indiquem riscos de que o material a ser
coletado esteja infectado por algum tipo de vírus.
“Se na entrevista identificarmos o menor grau de risco,
logo descartamos a doação”, explica a chefe do Banco de Sangue da Santa Casa de
Santos, Delci Gomes.
São excluídos os candidatos com comportamento sexual de
risco. Quem já teve malária, hepatites, doença de Chagas, câncer e hanseníase
nunca poderá doar sangue. O mesmo ocorre para o doente com Aids e também os
diabéticos com complicação vasculares.
Há ainda outras indicações para ser um doador de sangue.
‘É muito importante que o candidato fale somente a verdade na entrevista, além
de evitar que o sangue seja desperdiçado, caso haja identificação de alguma
contaminação, há o risco da janela imunológica”, afirma
Delci.
Janela
Pode demorar meses para uma pessoa infectada pelos vírus
HIV e HCV (hepatite C) desenvolver anticorpos das doenças. O NAT só detecta a
presença de anticorpos nas janelas de dez e 12 dias para, respectivamente, Aids
e hepatite C.
Se o NAT for feito em uma janela inferior, a detecção de
ambos os vírus não será possível. “Por isso, a doação é um ato de amor e,
sobretudo, de responsabilidade. Quem doa precisa ter certeza de que seu sangue
não vai prejudicar, em hipótese alguma, quem precisa”, frisa
Delci.
Exclusão
Como a entrevista aborda aspectos íntimos dos
candidatos, há o voto de exclusão para quem não se sentir à vontade de atestar
um comportamento de risco, por exemplo.
Depois da coleta, o doador deposita em uma urna o voto
de exclusão. Isso indica que alguma informação passada na entrevista não é
verdadeira. Tanto o voto de exclusão quanto tudo o que é informado na triagem é
mantido em sigilo, inclusive os resultados negativos dos materiais rejeitados
pelo NAT.
Dúvida
De acordo com a Associação Brasileira de Hematologia e
Hemoterapia (ABHH) o teste NAT desenvolvido pela iniciativa pública – Instituto
Bio-Manguinhos, da Fiocruz – aparentemente não possui a sensibilidade à qual se
propõe na detecção da janela imunológica no período de contaminação por HIV ou
vírus da hepatite C.
“Hemonúcleos da capital paulista e de outras regiões do
Estado, entre elas, Campinas e Ribeirão Preto identificaram que o nível de
sensibilidade do NAT é inferior ao que está na bula do teste”, diz o presidente
da ABHH, Cármino de Souza.
Ele destaca que a entidade já alertou o Ministério da
Saúde sobre a possível falha. “Estive em Brasília durante a semana. Tivemos a
garantia de que o Bio-Manguinhos dará uma resposta sobre o nível de segurança do
NAT dentro de 30 dias.
Souza afirma que a qualidade do NAT brasileiro precisa
ser assegurada o mais rápido possível. “Já tivemos muitos pacientes contaminados
em transfusões de sangue antes da implantação do NAT. O mesmo pode ocorrer se a
eficácia do teste na for garantida”.
Defesa
A chefe do Hemonúcleo do Hospital Guilherme Álvaro (HGA)
Rosane Guilani, defende o NAT nacional. “A Fiocruz produz vacinas e outros
produtos para o exterior. A qualidade da tecnologia desenvolvida no Brasil para
o NAT está de acordo com os padrões
internacionais”.
Segundo ela, o material colhido nos bancos de sangue
públicos e filantrópicos da região enviado à Fundação Pró-Sangue, na capital. “O
sangue usado em transfusões é seguro. Não tivemos casos de contaminação no HGA”,
conclui.
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