Ag Diap
Dois minutos. Esse é o tempo necessário para acessar um
manifesto online, ler os argumentos e se tornar um apoiador. No último ano,
mais de 3 milhões de brasileiros agiram dessa forma, e as duas maiores
organizações mundiais de abaixo-assinados abriram filiais no País. A novidade
piscou no radar da “classe política”, que ainda tenta aprender como lidar com
esse mecanismo de pressão.
Os números são superlativos e devem acompanhar o avanço da
banda larga no País – hoje disponível para 30% dos brasileiros. Dois milhões
assinaram uma petição para que a Câmara dos Deputados votasse o projeto da Lei
da Ficha Limpa.
O fenômeno virtual desperta desconfiança de setores da
sociedade que temem que os abaixo-assinados online consolidem o “ativismo de
sofá” e enfraqueçam formas tradicionais de protesto, como intervenções urbanas
ou marchas em vias públicas.
Mas, para pesquisadores, a tendência é irreversível: a
internet consolidou um novo espaço público para debate e formação de opiniões
e, assim como provocou mudanças na cultura e na economia, também provocará
transformações na política.
Para Pedro Abramovay, diretor de campanhas da Avaaz, ONG
internacional de ativismo online que reúne 20 milhões de apoiadores, sendo 3
milhões brasileiros, o modelo tradicional de democracia representativa, com um
voto a cada quatro anos, é insuficiente para dar conta de uma realidade na qual
os cidadãos podem se conectar rapidamente em torno de um objetivo comum. “Tenho
certeza de que a política nunca mais vai ser a mesma”, afirma.
Abramovay cita como exemplo o ato de compartilhar uma
petição no Facebook, para ele um comportamento “profundamente político” na
medida em que a pessoa assume uma posição diante de seus amigos e abre espaço
para contra-argumentos. “As pessoas passam tanto tempo na internet, ela é uma
parte tão importante para nossas vidas, que considero despolitizador dizer que
a política feita ali é menos importante”, diz.
Atento ao fenômeno, o parlamento alemão desenvolveu sua própria
plataforma oficial para que a população organize abaixo-assinados. Se a petição
alcançar 50 mil apoiadores, os deputados são obrigados a discutir o tema. A
Casa Branca, nos Estados Unidos, tem sistema parecido, o “We The People”.
Lobby
A Avaaz é financiada por doações voluntárias e se define
como uma ONG de defesa do interesse público, e não uma mera plataforma de
petições. A entidade deleta abaixo-assinados que ferem seus princípios e aposta
suas fichas em outros. Sua
força vem da união dos manifestos com uma estrutura azeitada para fazer lobby.
“A gente combina esse instrumento de petição online com uma
equipe que tem acesso a parlamentares, que sabe fazer isso”, diz Abramovay, ele
mesmo um conhecedor dos meandros de Brasília: foi ex-secretário nacional de
Justiça do governo Lula.
Na campanha contra Calheiros, a Avaaz visitou gabinetes de
senadores e contratou uma pesquisa do Ibope, que apontou que 74% dos
brasileiros seriam favoráveis à renúncia do alagoano.
Os pastores Silas Malafaia e Feliciano já avisaram que vão
processar a ONG após terem petições a seu favor bloqueadas pela entidade.
Contrariado, Feliciano organizou um manifesto em seu próprio site e reuniu 150
mil apoiadores. “Isso mostra que nossa atuação tem tido um efeito político
grande”, diz Abramovay.
Fonte: O Estado de S. Paulo/EcoDebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário