Fonte: Estadão
Um público que tem mais tempo livre, dinheiro para gastar e está muito disposto a experimentar marcas novas continua a ser ignorado pela publicidade: as mulheres com mais de 50 anos.
Para desafiar antigas noções e informar as cabeças pensantes do mundo do marketing sobre esse segmento crescente, o grupo de relações públicas Ketchum desenvolveu uma pesquisa chamada “Removement”, que aponta novas formas de relacionamento com essas mulheres. A última edição do Cannes Lions – Festival Internacional de Criatividade dedicou um painel à “redescoberta” deste público.
Segundo Karen Strauss, diretora de criação da Ketchum, o problema não é só a ausência das mulheres de 50 anos na publicidade dos produtos que ela está disposta a comprar. A questão é também a forma como esse público, quando aparece, é retratado: geralmente, a mulher está ao lado do marido, compondo um retrato familiar ideal. Na verdade, porém, elas estão cada vez mais solteiras. Na pesquisa da Ketchum, 22% disseram viver sozinhas.
A executiva usou sua própria experiência pessoal como exemplo. Karen acabou de se divorciar e vai trocar uma casa no subúrbio por um apartamento em Chicago. A filha mais velha já saiu de casa e também de sua “folha de pagamento”. “São muitas mudanças, mas eu as vejo de maneira positiva”, diz. “Acho que a atitude em relação à mulher de 50 anos é muito antiquada.”
Embora alguns dos produtos com comunicação dedicada a homens e mulheres acima de 50 anos sejam realmente consumidos por eles – como os suplementos vitamínicos, usados por 61% dos entrevistados pela Ketchum –, outras categorias acabam por ignorá-los. Uma delas é a de tecnologia. Isso ocorre apesar de, segundo o levantamento, pessoas acima de 50 anos responderem por 40% das vendas de produtos da Apple nos EUA. “É preciso lembrar que é possível ensinar um truque novo a um cachorro velho”, diz Karen, referindo-se à disposição de consumo de marcas associadas apenas ao universo jovem.
No que diz respeito a segmentos dominados pelos jovens, como o de moda, o uso de mulheres mais velhas ainda é exceção. A Bulgari usou recentemente a atriz Isabella Rossellini, 63 anos, em uma campanha de bolsas, enquanto a marca Céline optou pela escritora americana Joan Didion, 80 anos. Outras celebridades acima de 50 anos conseguiram manter a popularidade que tinham na juventude, como a cantora Madonna e a atriz Andie McDowell, rostos da Versace e da L’Oréal, respectivamente.
Agradar à mulher com mais de 50 anos pode ser ainda uma forma de uma marca ganhar dinheiro com a mais barata das propagandas: o boca a boca. Segundo Stephen Reily, da Vibrant Nation, companhia especializada no comportamento do consumidor de mais de 45 anos, a indicação de um amigo ou colega é essencial para esse público. “Noventa por cento das mulheres confiam em recomendações de outras mulheres, pois elas querem se espelhar em pessoas de sua faixa etária, e não em um padrão que não pode ser atingido”, diz o executivo. “Foi com essa estratégia que marcas como Healthy Choice (de comida congelada) e a L’Oréal conseguiram garantir a experimentação de seus produtos.”
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