Força Sindical/ Jornal Valor
Num momento em que a economia começa a dar sinais de
uma possível retomada neste segundo semestre, as maiores redes de varejo de
capital aberto do país colocam na rua projetos mais agressivos de crescimento
orgânico. Algumas varejistas vão tentar se recuperar dos últimos resultados
apáticos por meio de uma acelerada abertura de centenas de lojas que precisam
estar em operação até o Natal. Segundo dados dos últimos balanços, as sete
maiores redes do setor se preparam para abrir 382 lojas no segundo semestre do
ano no Brasil. São 89 lojas acima do registrado no mesmo período de 2011.
O volume previsto equivale a duas novas lojas por dia
sendo inauguradas até o fim do ano. Pontos novos registram aumento de tráfego de
consumidores entre 20% e 30%, em média, em relação a lojas antigas.
Dados de balanço mostram que os investimentos já
realizados pelo setor em 2012, (que incluem aberturas de pontos e depósitos,
reformas e tecnologia), já superam o realizado em 2011. De janeiro a junho, as
redes de capital aberto investiram R$ 1,385 bilhão no país, volume 20,4%
superior ao aplicado no mesmo intervalo de 2011.
Fazem parte desse conjunto de empresas com planos
mais audaciosos o Grupo Pão de Açúcar (que inclui as redes Extra, Casas Bahia e
Ponto Frio), Lojas Americanas, Magazine Luiza, Riachuelo e Drogasil.
No grupo de empresas mais conservadoras estão
Walmart, Lojas Renner e Marisa. Necessidade de concluir processos de
reestruturação de negócios, atrasos na abertura de shoppings e recente
desaceleração da economia estão entre os fatores que explicam os planos de
inauguração mais cautelosos.
Maior rede de varejo do país, o Pão de Açúcar disse
acreditar numa "crescente" demanda e informou que manteve o plano de
inaugurações previsto para 2012. Isso levará a companhia a abrir de 65 a 75
lojas (supermercados, hipermercados e loja de atacado) no segundo semestre. O
número estimado é cinco vezes maior que o volume de aberturas apurado na segunda
metade de 2011. De janeiro a junho de 2012, a empresa abriu cinco pontos e a
estimativa para o ano varia de 70 a 80 unidades. O grupo tem o maior projeto de
inaugurações entre as empresas analisadas pelo Valor.
No primeiro semestre deste ano, varejistas de capital
aberto investiram R$ 578 milhões em lojas e compra de terrenos
Na área de varejo eletroeletrônico, com Casas Bahia e
Ponto Frio, o grupo prevê abrir de 50 a 60 novos pontos em 2012. Até julho,
foram inauguradas oito lojas. Portanto, 42 unidades, no mínimo, precisam entrar
em operação de julho a dezembro. Foram 14 pontos abertos nesse período em
2011.
"Mantemos o [número] previsto. E estamos tentando
adiantar esse processo [de aberturas de lojas]", diz Enéas Pestana, presidente
do Grupo Pão de Açúcar. "Normalmente, começamos a tratar das inaugurações no
começo do ano, e como leva de 6 a 8 meses para conseguirmos abrir [uma loja], a
inauguração sempre acaba caindo no segundo semestre. Estou tentando iniciar esse
ciclo no meio do ano para ter loja já mais ajeitada antes do segundo semestre",
disse ele, em evento na sexta-feira, ao ser questionado pelo Valor.
A necessidade de as redes ampliarem a base de
cobertura pelo país, aumentando os ganhos de escala e abrindo espaço para uma
alta maior da rentabilidade, explicam a busca por novos pontos. Forte aumento no
ambiente competitivo, que leva as companhias a buscarem praças inéditas de
atuação, também tem peso no resultado. Em períodos de poucas aquisições no
varejo, a expansão orgânica torna-se o caminho único para ocupar essas novas
regiões e ampliar a escala de vendas.
Há analistas que acham possível atingir essas metas,
mas há riscos nesse processo. "As lojas terceirizam tudo numa obra e a rede só
pressiona se o prazo começa a ficar apertado", disse Mauricio Morgado, do Centro
de Excelência em Varejo da FGV-Eaesp. "O problema é que muitas vezes, é um
corre-corre enorme para entregar o prometido. No ano passado, tivemos lojas
abrindo em dezembro, às vésperas do Natal. Um ponto desse só vai operar mesmo em
janeiro, quando a venda despenca. Com isso, demora mais para se pagar a
loja".
A Lojas Americanas é a segunda rede com o plano mais
agressivo, seguido pela Lojas Riachuelo. Na rede de departamentos, foram 28
lojas abertas de janeiro até metade de agosto e faltam, pelo menos, 82 unidades
da Lojas Americanas a serem inauguradas em cerca de quatro meses para alcançar a
meta de 110 a 120 aberturas em 2012. A companhia informa que tem parte dos
pontos no portfólio. "São mais de 80 lojas contratadas ou em estágio avançado de
negociação, o que demonstra o comprometimento da companhia na execução do
programa de expansão", informa a rede em relatório de resultados.
As próprias empresas trouxeram o assunto para debate
junto à analistas na apresentação de resultados neste mês. Uma delas foi a
Renner. A companhia abriu sete pontos de janeiro a junho e, para chegar à meta
de 25 a 30 novas lojas em 2012, teria que abrir, no mínimo, 18 unidades de julho
a dezembro - número inferior aos 21 pontos inaugurados na segunda metade de
2011.
O vice-presidente financeiro da Renner, Adalberto dos
Santos disse, dias atrás, na divulgação de balanço, que a empresa "não iria
comprometer a operação para bater metas". E se ocorrer a postergação de abertura
de shoppings previstos para o fim do ano, a rede vai adiar aberturas para o
começo de 2013. "Muitas vezes, as redes atiram para tudo quanto é lado e depois
chega a conta", diz Luiz Góes, sócio da consultoria GS&MD.
Concorrente da Renner, a Marisa admite a freada nas
inauguração - devem ser 33 neste ano (26 a menos que em 2011) - devido a uma
reestruturação das operações. A rede criou o projeto "mais por metro quadrado"
para ampliar resultados em lojas já existentes. "Doze por cento das novas lojas
inauguradas entre os anos de 2010 e 2012 não apresentaram o desempenho que
esperávamos", disse para analistas Marcio Goldfarb, presidente da varejista
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